Os jogos de ontem já haviam começado quando entrei no banho, com a cabeça explodindo de dor, havia decidido que não assistiria nada, iria pra minha cama. Mas no caminho entre o banheiro e o quarto havia uma televisão. Como o impulso de dar
"só uma olhadinha" foi maior, liguei-a. Na Sportv, o Fluminense perdia de 1 x 0 pro Cerro, resultado que levaria pros pênaltis, na Globo, Grêmio e Palmeiras empatavam em 0 x 0. Decidi assistir esse.
Alguns minutos foram suficientes para me fazer esquecer da dor, o futebol tem esse poder, afinal é o ópio do povo. E eu sou do povo, eu sou um zé ninguém... Fiquei a vontade por que o Grêmio dominava a partida e apesar de ser a maior admiradora viva de Muriçoca, prezo pela invencibilidade no Olímpico. Minha sublimação das dores físicas foi rapidamente recompensada com a cabeçada de Maylson e Figueroa, que fez o meia gremista sangrar.
COISA LINDA! Por que poucas coisas no mundo são mais bonitas que um homem sangrando...talvez um homem com a camisa do Grêmio e sangrando.
Aos 46' num futim dentro da área, Rafael Marques achou a bola e colocou-a no fundo do gol de Marcos. Era a gota d'água para um Palmeiras nervoso, vendo o título escorrer entre os dedos. No caminho para o vestiário, Maurício e Obina discutem, a turma do deixa disso chega, tentam separar, mas Maurício tenta acertar um pedala em Obinaço, que revida com um soco. Assisti aquilo tudo de boca aberta, depois um Marcos solitário caminhava de cabeça baixa rumo ao túnel, último a sair de campo. A imagem da desolação alvi-verde.
Obina nem voltou a campo, seria substituído por Vagner Love, mas Dr. Heber Roberto Lopes, El Carecón, obviamente mandou os arruaceiros pra rua. Maurício de corpo presente, e apresentou ao Capitão o cartão vermelho de Obina.
Com dois a menos ficou muito simples para o Tricolor dos Pampas administrar sua invencibilidade caseira. O Palmeiras se apertou, buscou uma ou outra graça com os arranques do Armero, mas acabou tomando o segundo aos 25' da etapa complementar, com Maxi López.
Saldo da noite? Grêmio ainda invicto dentro de casa, Palmeiras perigando até no G4, visivelmente em crise, Obina e Maurício sumariamente demitidos pela irresponsabilidade.
Não lutava mais com a dor de cabeça quando rapidamente troquei para o Sportv, a tempo de ver o empate do Flu, pelo menos dos pênaltis estariam salvos. Aquilo já bastava...mas mais uma vez fui recompensada pelos deuses da bola pelo meu esforço ao presenciar o
INCRÍVEL gol da virada, aos 49 do segundo tempo, Alan viu o goleiro fora do seu lugarzinho, arrancou, driblou o dito e mandou pra dentro. Uma cena
LINDA! Fim de jogo e começo do quebra-pau generalizado, jogadores do Cerro agredindo quem vissem pela frente, sobrou até pro gandula! O.o Foram enxotados na base do cacetete pela PM, escada abaixo.
Futebol sulamericano é mesmo de uma
RYKHEZA ímpar. Fico até emocionada com isso.
Mas
A CENA DA NOITE ainda estava por vir. Acalmada a situação, o repórter de campo chama Cuca pra conversar, que responde com um olhar vago, como se fitasse algo no horizonte...no meio da entrevista pára e diz
"olha, uma camisa do Botafogo" . Achei, primeiro, que o Cuca tava muito louco, mas a câmera se volta pra arquibancada e no meio de um mar tricolor, um alvi-negro solitário comemora a vitória dos conterrâneos.
Pois saibam, tricolores cariocas do meu coração, aquele torcedor do Glorioso, ali, solitário, me representou. Vocês merecem isso, merecem essa final, merecem essa reação!