Sangue na Água
Quem acha que jogar pólo aquático é fácil, pra qualquer um, moleza, “ah, também nado atrás da bola”, não sabe o tamanho da besteira que tá falando.
Primeiro que é terminantemente proibido colocar o pé no chão da piscina (é, tem gente que AINDA não sabe disso), logo são em média 40 minutos de movimento contínuo das pernas e braços. E não é só nadar atrás da bola, tem que nadar rápido, assim como um jogador de futebol precisa correr atrás da pelota. É preciso ter impulsão dentro d’água (cara, não sei como eles fazem isso até hoje) para fazer os arremessos à gol. E, acima de tudo, precisa ter um culhão dos inferno, por que o bicho é punk.
Na verdade tudo isso é pra justificar minha tara estranha por jogadores de pólo aquático (né, Johnny?) e contar uma historinha do esporte pra vocês.
Em 56 a (finada) União Soviética invadia Budapeste, na Hungria pra tentar colocar ordem na casa, já que vários protestos por mais liberdade estavam ocorrendo, dando início, assim, a Revolução Húngara. Nesse mesmo ano, a Austrália realizava suas Olimpíadas e os atletas húngaros impedidos de voltar pra casa, acabaram competindo.
Azar dos comunas, que pegaram um time de pólo húngaro com sangue nos zóio, loucos pra revidar, ali, na piscina, o que os soviéticos estavam aprontando na casa deles.
A coisa foi feia, a piscina pegou fogo e o estopim pro fudevouz generalizado foi o corte na cabeça sofrido pelo capitão do time húngaro, Ervin Zádor, que foi retirado da piscina pelo técnico e nem pode jogar a final. Zádor não foi o único a se machucar aquele dia, e a partida ficou conhecida como “Blood in the Water Match" (ou Partida do Sangue na Água).
Os húngaros lavaram a alma com água clorada e o próprio sangue, eliminaram os invasores e seguiram para a final com a (também finada) Iugoslávia e foram tricampeões olímpicos.
Mais do que um jogo simples de pólo, foi uma luta pela liberdade. Em 2006, o documentário Freedom’s Fury, produzido por Quentin Tarantino e Lucy Liu (entre outros) e narrado pelo ex-nadador Mark Spitz, reviveu a partida e fez um paralelo entre a Revolução Húngara e esses homens que entraram naquela piscina dispostos a tudo.
1 Comentário:
Os maiores defensores do comunismo nunca viveram em regime comunista.
Postar um comentário